Roupa de criança: tem que ser divertido!

Ser criança inclui se vestir como criança. Contudo, algumas marcas parecem ter se esquecido desse princípio tão básico, e apostam em roupas com ar mais adulto. Claro que as coleções infantis acompanham as tendências de moda, mas se vestir não deve estar separado da infância.

Também é importante que os pais tenham essa consciência e não incentivem a criança em nenhum momento a vestir roupa que não tem nada a ver com a sua idade. “As crianças estão se preocupando cada vez mais cedo com o que vestem e com a imagem que possuem. A vaidade nesse nível é preocupante, e muitas vezes vem dos pais”, diz Leo Fraiman, professor e psicoterapeuta.

A marca Pee Wee Pumps gerou polêmica nas redes sociais alguns anos atrás por criarem sapatos de salto para meninas de 0 a 6 meses de idade. Sim, você leu certo: saltos para recém-nascidas! E a marca americana vai além: traz modelos como “pretinho básico” ou com estampas animais, como zebra e onça. Frases como “Para sua bebê ser uma diva” ou “Sua filha mais bem-vestida nos encontros de amigos” estão espalhadas pelo seu site oficial. Dá para acreditar?

Posicionamentos como esse vão contra o processo de desenvolvimento da criança, antecipando fases e deixando-a sujeita a modismos desnecessários. É preciso lembrar que a criança não é uma versão pequena de um adulto e, por isso, deve ser tratada como criança e ter acesso aos produtos de acordo com sua idade.

Miniadultos

A tendência mãe e filha tomou conta das passarelas e também das redes sociais. Lojas se especializaram na venda de looks exatamente iguais, em tamanhos diferentes. Só que isso também não é, necessariamente, roupa de criança.

Os looks mãe/filha podem ser ou adultos demais para a criança ou infantis demais para a mãe. “O conceito da moda mãe/filha começou como algo divertido, e de fato pode ser, pois aproxima a família, que deve encarar isso como uma brincadeira, não como um padrão a ser seguido”, diz Deborah Moss, mestre em Psicologia pela USP, especialista em Desenvolvimento Infantil.

Por isso, transforme essa tendência em uma grande brincadeira. Desafie seus filhos a recriar um look seu, mas com as roupas deles. Depois, façam o contrário: você precisará encontrar no seu guarda-roupa peças parecidas com as das crianças. Quem sabe isso não se transforma naquela faxina que você vem adiando há semanas?

Perigo online

É preciso dizer: transformar a criança na versão menor de um adulto: permitindo que ela use roupas inadequadas à sua idade ou porte físico, acaba sendo um atrativo para pessoas mal-intencionadas. Dados divulgados pelo governo brasileiro em 2014 revelaram que são recebidas mais de 180 mil denúncias de violência contra crianças e adolescentes, sendo que 26 mil tratavam de abuso sexual. É uma média de 70 denúncias por dia.

“Vestir as crianças com looks de adultos encurta a infância e alimenta a erotização precoce; a criança acaba pulando fases importantes de desenvolvimento e de conscientização de que o que ela veste pode representar”, diz a psicóloga Lucia Helena Zanon. Deborah Moss concorda: “A infância é a fase mais curta do desenvolvimento humano. Não devemos acelerar esse processo”.

Cada vez mais cedo as meninas querem assumir uma postura de mulher, e isso precisa ser tratado com cuidado. A conversa é essencial e deve levar em conta outro fator importante além do vestir: a presença nas redes sociais, onde as crianças podem se expor além do necessário. Não é culpa delas, a maldade está nos olhos de quem vê. A dica também vale para os pais, que muitas vezes acabam postando fotos dos filhos com looks provocantes. Todo cuidado é pouco.

Liberdade de criação

Cada vez mais as crianças se sentem independentes na hora de escolher suas roupas, tanto no momento de se vestir como na hora da compra. “Nossa geração quer dialogar e negociar com os filhos, o que é superpositivo, mas as crianças precisam de limites”, analisa Deborah.

Por isso, quando for às compras com seus filhos, diferencie “querer” de “precisar”. O equilíbrio é o primeiro passo para que ele compreenda que as roupas da moda não são o que ele necessita de verdade. A moda infantil mudou e está mais moderna, sim, no entanto continua sendo para crianças. Antes de tudo, seu filho precisa de conforto, de roupas que permitam que ele brinque, se movimente.

Outro ponto importante é a ocasião. Não se pode permitir que a criança use o que quiser em qualquer situação. “Os pais devem explicar com serenidade, mas também com firmeza, a diferença entre as roupas de acordo com o momento. Em um casamento, por exemplo, a criança deve entender que se vestir adequadamente é uma forma de demonstrar carinho e respeito aos noivos. Ela não pode se vestir da maneira que quiser sempre, do contrário pode achar que não precisa se submeter às regras”, afirma Leo Fraiman.

Escolher a própria roupa é um ato de autonomia e criatividade, mas deve ser acompanhado de perto. Vestir-se tem que ser tão divertido quanto ser criança!

7 mandamentos do guarda-roupa infantil

  1. Usar roupas confortáveis, que permitam brincar
  2. Ter fantasias e outras peças divertidas no armário
  3. Se encolher dentro de um pijama quentinho
  4. Calçar os sapatos de acordo com seu tamanho e idade
  5. Deixar o guarda-roupa arrumadinho
  6. Separar as roupas especiais, usadas em festas, das do dia a dia
  7. Ser livre para criar!

Matéria publicada na revista Pais&Filhos Moda (ano 8, nº 15), em 2017

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