Reinaldo Lourenço: 40 anos de moda

Vida longa ao Rei – o apelido de Reinaldo Lourenço, que também ilustra muito o lugar que o estilista ocupa no cenário da moda brasileira. No último 24 de março, ele celebrou seus 40 anos de carreira com um desfile elegante e emocionante no auditório Simon Bolívar, no Memorial da América Latina, em São Paulo.

Mas, para chegarmos até aqui, precisamos percorrer os 40 anos de carreira de Reinaldo Lourenço, uma história que começa na cidade de Presidente Prudente, interior de São Paulo. Desde criança tinha um olhar artístico apurado e gostava de escolher as próprias roupas: queria entender como Ruth, a costureira que frequentava sua casa, fazia os moldes das roupas, cismava que queria camisas com estampas específicas e fez festa quando a escola onde estudava aboliu o uso de uniformes.

Na adolescência ele já tinha certeza de que queria trabalhar com moda. Aos dezesseis anos, montou sua primeira loja de roupas dentro do seu quarto mesmo: os amigos queriam conhecer sua seleção de roupas e comprar peças parecidas com as que ele vestia. Contudo, aos dezoito anos ele já sabia que não queria apenas vender roupas, mas criar seus próprios modelos.

“A elegância e o poder estão dentro de cada pessoa. Basta ter atitude para se expressar.”

Reinaldo Lourenço

Reinaldo decide, então, se mudar para São Paulo para empreender e estudar (é formado em Arquitetura pela USP – ainda não havia cursos de graduação na moda no Brasil na época em que ele fez faculdade). Meses antes da mudança, conhece em uma festa a estilista Gloria Coelho; intermediado por uma amiga em comum, ele consegue um estágio do ateliê dela. Mal sabiam os dois que esse seria o começo de uma história de amor, e não apenas pela moda…

Quatro anos depois desse primeiro encontro, Reinaldo Lourenço e Gloria Coelho se casaram. Em 1990 nasceu o filho do casal, Pedro Lourenço, que se tornaria estilista assim como seus pais. Atualmente Reinaldo e Gloria não estão mais juntos, mas foi essa união que forjou não apenas uma família da moda, mas o interesse e desenvolvimento do próprio Reinaldo por design.

Nesse meio tempo, Rei trabalhou como assistente na revista Claudia Moda, a convite de Constanza Pascolato e também abriu uma camisaria com uma amiga, mas desistiu logo do negócio; a pedido de Constanza, criou um vestido para uma matéria da revista e a peça teve quase cem encomendas! Decidiu então investir na moda feminina e abriu sua loja no mesmo ano em que Pedro nasceu, na rua Bela Cintra.

Looks da coleção inverno 1999 de Reinaldo Lourenço, chamada “Visita”

Quando pensamos em uma roupa criada por Reinaldo Lourenço, duas palavras vem à cabeça: clássico e moderno. Podem parecer termos opostos, mas eles se encontram muito bem nas criações do Rei. O estilista sempre investiu em tecidos nobres e cortes de caimento perfeito, como toda peça clássica deve ter, mas tudo sempre tem um toque de vanguarda, de novidade; pode ser um acabamento diferente, uma mistura de texturas, algo que transforme a peça de clássica para moderna em instantes.

Looks da coleção inverno 2007 de Reinaldo Lourenço, inspirada no filme Mad Max

As referências para cada coleção também são diversas: o rock, seu estilo musical favorito, a estética country americana, filmes de ficção científica e até mesmo um bombom Sonho de Valsa já serviram de inspiração para Reinaldo Lourenço. A coleção apresentada no desfile comemorativo dos 40 anos de carreira – Couture – trouxe referências de vestidos de grandes bailes, o brilho dos anos 1980 unido ao futurismo proposto na década de 1960 e estampa de leopardo. Tudo, como sempre, trabalhado com tecidos nobres e técnicas artesanais.

Fila final do desfile Couture 2024, de Reinaldo Lourenço, que marcou seus 40 anos de carreira

Mas é importante dizer que nem tudo são flores nesses quarenta anos de carreira. Em 2020, Reinaldo Lourenço foi acusado de racismo e conduta abusiva; o perfil Moda Racista no Instagram (atualmente desativado) reuniu diversas denúncias de modelos, funcionários e ex-funcionários ao estilista, dizendo que ele se colocava como um ser superior e, inclusive, não permitia que as pessoas se sentassem ao fazer uma reunião com ele.

Na época, Reinaldo chegou a ser entrevistado pela revista Veja e respondeu às acusações. “Eu errei. Tenho consciência de que me faltou empatia e compreensão em relação às modelos negras e aos outros profissionais da moda. Desculpem-me. As recentes críticas e observações de quem se sentiu constrangido em algum casting (seletiva de modelos para fotos e/ou desfiles), backstage ou desfile suscitaram uma autorreflexão. Eu vou mudar”, disse o estilista na ocasião.

Com mais esse aprendizado em sua grande bagagem, de carreira e de vida, Reinaldo seguirá reinando. Sou uma grande admiradora de suas criações e acredito que ainda há muito que o Rei deseja nos mostrar – estarei esperando, ansiosa, pelos próximos anos dessa história.


Fotos de coleções estão no livro Reinaldo Lourenço, da coleção Moda Brasileira, publicado pela Cosac Naify em 2008

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